terça-feira, 29 de novembro de 2011

Back to Black

Os mesmos pedaços. As mesmas restrições. Essas marcas dizem bem de onde vim e pra onde vou.
Essa maldita frase continua ecoando na minha cabeça, e o acaso me trouxe ela mais uma vez.
Eu vou quebrar esse mundo em pedaços, do tamanho dos meus. Eu vivi 18 vidas que não eram a minha.
Eu percorri todos os caminhos que me foram mostrados. Eu venci como queriam, mas mesmo assim continuam pedindo meus ossos. Eu quebrei o último espelho, e agora muita gente vai se machucar.
Essa é a revolução que eu começo da minha cama, um passo após o outro, uma gota de cada vez.
Esse é o meu egoísmo na sua forma total, a perda completa da santidade imposta.
Eu farei isso como sempre, Telecaster nas costas e o mesmo terno velho, afinal, voltar do inferno não é tão difícil assim...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Dust to dust

Sentado nesse banco eu apenas observo. Vejo a poeira subindo quando os carros passam e o calor na beirada dos muros. Esse lugar parece o cenário de um velho-oeste ruim e sem diálogos.
Aqueles ossos enterrados tão perto, me atormentavam. Eu achava que havia cometido um erro ao deixá-los numa cova tão rasa, mas a poeira deste lugar acabou terminando meu serviço.
Eu descobri isso hoje, enquanto ouvia a canção que tanto me inspirava. Dia após dia o pó caiu sobre aquela tumba sem que eu percebesse. Mais de um ano de partículas, animais mortos e pele humana que vagaram pelo ar, sujaram minha camiseta branca, e entupiram meu nariz cobriram aquela cruz.
E foi esse mesmo pó que me fez perceber que não tenho mais os olhos de antigamente. É estranho piscar, e se deparar com um mundo completamente mudado. Acho que meus velhos olhos tornavam tudo  complicado, eles eram pré-programados para procurar o lado obscuro e pessimista das coisas.
Isso atrapalhava sem eu perceber, alimentava o meu medo, me dava medo, e me fazia ficar no mesmo lugar.
Esses novos olhos me mostraram mais uma coisa, e percebi isso olhando uma criança.
O meu tempo não é mais o mesmo. Eu já havia percebido, mas os velhos olhos não me deixavam aceitar.
Eu tinha tempo pra criar medos e possibilidades cruéis sobre a minha vida. Eu tinha tempo pra sofrer coisas com antecedência. Percebi agora, que até sofri muita coisa que na realidade nunca aconteceu.
Criei tantos mundos, famílias, dores e tardes odiando pessoas que não existem, que acabei não percebendo que a minha realidade estava acontecendo, e sem eu notar. Deixei o melhor dos meus mundos, esse aqui no qual eu sento e escrevo, abandonado simplesmente por medo de que alguma realidade fantasmagórica da minha cabeça tomasse o seu lugar. Já faz algum tempo que percebi que essa é a minha vida, e que ela acontece agora, mas nos últimos dois meses, eu tenho tido certeza que a melhor coisa a se fazer é  simplesmente viver. Os novos olhos acabaram me mostrando que o meu mundo é muito melhor do que qualquer outro que eu poderia ter imaginado. Ele é real e acontece agora,
assim, com esse carro que passa levantando uma nuvem de poeira.
Olho para o chão. Nenhum dos meus mundos tinha poeira. Nenhum dos meus mundos tinha calor.
Mas nenhum dos meus mundos tinha felicidade também, então é melhor não reclamar. Aqui tem poeira e calor, mas aqui eu sou feliz.
Ouço o som baixo do motor e vejo um sorriso. Subo na garupa e sinto mais calor.
Pelo retrovisor vejo as ruas esburacadas ficando pra trás.
Ela passa a mão sutilmente na minha perna me fazendo olhar pra frente.
É, eu não tenho mais medo.