quinta-feira, 30 de agosto de 2012

samotna dziewczyna która kochała

Me pega pela mão, mexe no meu cabelo e deixa o vento mudar a direção. É nesse momento que percebo que nem toda a cocaína do mundo te traria de volta. É nesse momento que percebo, que todas as madrugadas que passei enchendo a cara tentando te encontrar foram em vão. Eu me embebedo mais uma vez, acendo outro cigarro e começo a pensar. Começo a reparar que não faço ideia de quem é esse você que eu tanto quero encontrar. Quem é você que esmaga minhas veias quando tento dormir? Você, que sorriu tantas vezes para dentro dos meus olhos e se viu nas minhas pupilas danificadas pela ferrugem?
Eu me pergunto quem é você que sussurra em meus ouvidos perto da hora de acordar. Quem diabos é você afinal?  Suas fotos não condizem com sua história. Sua imagem não condiz com o sofrimento que sua maquiagem não consegue cobrir. O que quer de mim? Você levou todos os pedaços de mundo que eu carregava na mochila. Você mudou meu nome, você me deu um nome à mais. Quando essa tortura vai acabar? Desenhamos mapas na farinha antes dela derreter nossa mente, te desenhei um relógio que sempre marcava a hora do almoço, e mesmo assim você... Você sabe o que fez.
Essa é a simples frustração de não poder dar nome ao ódio aqui. A simples frustração de não te conhecer para poder te deletar de vez. Essa é a linda frustração de viver em uma Polônia estampada com vermelho Rússia.
Mas isso você não vai entender, é grande demais para suas 18 polegadas de mundo cromado.
Eu adoraria te salvar, mas eu não conheço você.

Nunca Conheci.



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Ether/Loveless

É como ter areia entre os olhos, agulhas nos músculos. Ácido lático.
Você não faz ideia dos termos que está usando para jogar coisas na minha cara.
Me enfurecendo. Se desperdiçando. Me trazendo nicotina.
Eu sentaria em frente à janela do seu apartamento no 30° andar para ver você se jogar.
Eu prometeria mentir sobre o seu sexo. Não.
Me contorcendo, esfarelando perante sua maldita imagem.
Um estúpido fragmento de você sem roupa no canto esquerdo do meu cérebro.
Outro pedaço de ferro cromado enfiado em meu tórax. "Into the pink."
Como a vontade de viver entre seus rins, seu berçário de poliuretano rosa.
Não há como fugir. Eu estou na falha dos seus olhos. Na sua respiração.
Na calcinha velha que você não consegue queimar. No seu sangue.
- E todas as futuras gerações serão amaldiçoadas pois minha marca está entre suas linhas-
Estou escondido no sorriso que você dá toda manhã tentando acreditar.
Me arrastando entre seus dias, tropeçando nas palavras.
Um velho truque que canto quando chove.

-Me ama em seus pesadelos.


(Todo dia é como o anterior, com uma nuvem negra no céu. Não faça nenhum som e poderá ouvir seu fim. Não chore, só feche seus olhos de criança e vá para onde quiser, não é tão mal assim.)








terça-feira, 21 de agosto de 2012

Nils Bejerot

A falsa ideia de ser livre entre palavras.
A liberdade de poder escolher ser um entre nove.
Você ainda não aprendeu a usar isso.
Uma doença que só sabe o nome.
Uma pena.

domingo, 19 de agosto de 2012

Karmacoma

Abri os olhos e encontrei outro teto não familiar. O 38° esse ano. A velha sensação de acordar em um lugar estranho continua péssima. A textura e a tinta da parede me dizem que devo ir embora, e logo. Esse não é o meu lugar, esse não é o meu mundo. Tento puxar o lençol e levantar sem que ela acorde. Odeio dar explicações pela manhã. Durante essa simples tarefa eu percebo como é cansativo viver no limite de dois mundos - o que não é meu e o que não é dela- . Como é cansativo viver no espaço vazio. Como é perigoso viver sobre essa linha tênue que mantêm as coisas unidas. Andando em uma corda bamba, entre as coisas que odeio e o medo do total desconhecido.

Estou ficando sem desculpas.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Take #9 - New York Telephone Conversation

Vamos baby, segure a minha mão, eu te ensino. Puxe o gatilho, não o aperte. Calcule o tempo e o impacto, destrua esse crânio. Vê essa gosma amarelada? É ai que moram as ideias. Puxe o gatilho mais uma vez, mire um pouco mais embaixo. Vê este sangue escuro? Provavelmente você perfurou o fígado. Deixe-a aí, está feito. Você não deveria me amar. Você não deveria estar ao meu lado nas madrugadas frias. Você não deveria me esquentar com seu corpo nu enquanto tenho crises de abstinência. Eu me perco em seu quadril. Eu descanso entre seus seios perfeitamente desenhados, e todo esse conforto é realmente assustador. Eu te profanei quando peguei sua mão e te fiz feliz. Para um velho pecador, essa é a menor coisa para se preocupar no momento. Nós deveríamos sorrir e transar ao invés de se afundar nessas torturas matinais. Você não imagina a quantidade de dor pura que me causa, enquanto eu me distancio cada vez mais da vida. Somos uma canção ruim do Lou Reed. Somos um disco ruim de David Bowie. Eu quero ser o sexo com Portishead, e você sabe disso. Não me culpe, eu sou todo remendado. Não se culpe, você não teria como saber a hora certa de aparecer. Eu prometo que você nunca mais irá matar alguém, desde que esteja disposta a se jogar no sofá e esquecer quem sou eu. Deixe isso para depois, temos dois problemas mais importantes agora. Um corpo novo para esconder e um velho amor para evitar.
Arranque minha roupa e cale a minha boca.

Vida Diet


Ah, essa vida moderna, enlatada e cheia de conservantes! Esse ritmo frenético de indas e vindas sem sentido. Esse ódio pré-programado em html e os amores barrados no anti-vírus. Apertos de mão que não existem e sorrisos estampados com tinta barata. Isso tudo me enoja. Antiquado sentimento de orgulho por ser um só, por ser só um. Ócio detestável dos meu olhos, que se desviam das palavras impressas e se prendem aos caracteres de 8 bits. Doce ironia em jogar mais um sentimento no limbo desse mundo. Padronizar mais um pedaço de mim. Me tornar encontrável aos satélites que me guiam para casa. Me tornar mais um ao invés de um só. Amável dissonância que chega aos meus ouvidos direto dos confins de Londres via fibra-óptica. Linda raiva pasteurizada em uma guitarra made in china. Louvai ao semi-deus Processador de dados, pois ele transmite todo o conhecimento necessário para nossa vida. Louvai aos anjos que enviam nossas mensagens por e-mail, pois sem eles, nossas preces não seriam atendidas. Ah, a incrível revolução com uma imagem. O protesto em um muro sem tijolos. A batalha Vietnamita renderizada com desprezo, e as mudanças que queremos nos países que nunca visitamos. Celebrai-vos a imbecilidade humana, pois agora  podemos comemorar um Status coletivo! Não há culpados, não dessa vez.
Celebrai mais uma vez a ironia. A ironia de escrever essas palavras que produzem mais um leitor automático.
Outro leitor automático de palavras automáticas.







terça-feira, 14 de agosto de 2012

Pedaços.

Eu sento para escrever e minhas pernas queimam. Completamente sozinho. Eu desejei isso. O silêncio.
Não reconheço os lugares por onde caminhamos. Não reconheço o sentimento das músicas que danço.
Eu não gosto do meu cabelo. Eu amo minhas guitarras. O simples fato de você amar uma coisa já o suficiente para que te odeiem. Eu passo mal e me debato na cama. Eu choro até apagar por coisas que eu não sei. Eu estou bem, saio da cama e sorrio. Levanto e limpo a casa. Cozinho e ouço Placebo. Eu morro. Eu quebro coisas. Eu mato pessoas. Eu choro de novo. Eu olho para o sol e aproveito a cegueira temporária. Eu estou curado. Piloto automático. Eu tenho orelhas normais agora. Uma tatuagem nova. Um sentimento antigo. Sua mentira. Esperança no que não existe. Eu quero acordar diferente. Eu quero acordar sem o sufocamento da sua companhia. Eu quero acordar sem as frases estúpidas e as piadas sem graça. Eu tenho vergonha do que senti. Tenho vergonha de ter caído em um truque que eu mesmo ajudei a criar. Me sinto diluído em cerveja barata. Me sinto desintegrado entre notas de sintetizadores oitentistas. Esmagado por suas palavras. Esmagado entre suas pernas. Sinto falta de odiar alguma coisa mais do que a mim mesmo. Sinto falta de amar alguma coisa mais do que a mim mesmo. Desejo felicidade e que tudo de certo, e dessa vez não desejo que seja para mim. Eu consegui o que queria.
Mudei. Não sei de quê para quê, mas essa facada entre os rins me colocou no lugar. Eu começo a chorar. Não estou triste, não estou deprimido. É tudo uma dor esquisita. Talvez seja a dor de tentar organizar os cacos que continuam espalhados pelo chão da sua memória.



( é impossível transformar o tudo em nada ).

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Videotape

Pare a fita, volte nove quadros. Você se reconhece?
Reconhece esse sorriso que você nunca mais viu?
Consegue se lembrar deste dia?
O dia mais feliz de sua vida?
Aperte o play.
Você reconhece estes rostos?
Tente imaginá-los sem as rugas e a idade.
Eles estavam lá, aplaudindo e celebrando sua breve felicidade.
Você acabou com a cor. Você acabou com o contraste.
Tudo virou cinza.
As cartas que você nunca mandou.
O amor que você inventou.
Regravado. Sobreposto.
Avance mais 3 minutos e olhe.
A solidão está sentada em seu ombro.
Isso merece replay.
Não chore. Eu tenho isso gravado também.
Uma fita chamada angústia.
Uma fita chamada desespero.
O lago, um beijo entre as árvores.
Uma tarde jogada no sofá.
Uma madrugada de sábado frio, sozinho.
Duas barras de chocolate.
Não adianta me contar isso.
Você nunca gravou uma fita chamada felicidade.
As tardes morrendo.
Os dias passando.
As coisas sumindo.
Eu estava filmando.
Eu estava lá quando você disse adeus.
Eu estava lá quando a vida fugiu por entre seus dedos.
Eu estava lá quando choraram sobre o seu corpo.
Eu sou o dono da sua história.
Eu sou o dono da sua fita de vídeo.
O dono do dia mais feliz da sua vida.
O último dia.

Gravado
Em uma fita de vídeo chamada suicídio.



(N°9)




domingo, 5 de agosto de 2012

A day in the life

Você vai acordar um dia e olhar para o lado. Você irá encontrar uma mulher que não o ama, e você também não ama ela. Você sairá da cama pequena se sentindo desconfortável, caminhando pelos corredores da casa simples que conseguiu construir ao longo de tantos anos. No café da manhã, seus filhos que não te respeitam estarão à mesa, gritando e pedindo porcarias que eles não sabem usar. Sua mulher estará na TPM, e nem de longe lembrará a garota meiga que um dia você conheceu. Você se sentirá mais desconfortável ainda.
É hora de ir para o trabalho que você odeia. Você começa a se perguntar quando foi que sua vida profissional virou um ciclo de lambeção de bolas interminável. A imagem do seu chefe obeso, babando enquanto enriquece às suas custas, te deixa enojado. Seu carro do ano financiado em 72x, não pega, e você começa a se perguntar quando foi que passou a depender de um pedaço de plástico enorme para se locomover. Seu coração começa a berrar.
Você está atrasado novamente e resolve pegar um ônibus. Ao entrar, você é sufocado pelo cheiro de pipoca doce misturado com depressão. A porcaria do ônibus está completamente lotada. Você tenta encontrar um espaço entre a porta e os seios flácidos de uma senhora. Seu estômago está se auto consumindo. Um jovem magrelo que parece ter roubado as roupas do Jô Soares liga um aparelho que um dia você conheceu como celular. Você tem vontade de esmagar o crânio dele com uma pedra.
Você resolve descer e continuar apé até o trabalho. Seus músculos provavelmente não irão aguentar a caminhada. Você não entende o trânsito. Você não entende a moda. Você não entende o que as pessoas estão ouvindo em seus carros. Você não entende porque tudo é tão alto, nem porquê as pessoas buzinam tanto. Seu pulmão parece falhar.
Você chega ao seu emprego. Exausto, e ainda são 8 da manhã. Na recepção, a secretária gostosa que você nunca irá foder te dá um bom dia de plástico. Você acha que já é o suficiente para sorrir.
Você chega em sua minúscula mesa.  Pelo menos por enquanto, você se sente feliz.
Apertar botões em um computador, por mais 8 horas. É tudo o que você precisa fazer.
Você vê seu chefe se aproximando, e prepara seu psicológico para o esporro de sempre.
Você não consegue se concentrar no que ele está dizendo, a baba caindo no paletó francês que você nunca vai conseguir comprar te distrai. Ele se foi e você não viu.
É hora do almoço. Você não deixa de comparar o refeitório da empresa com um campo de concentração nazista. Pega sua refeição e senta em um canto qualquer, implorando para que ninguém se aproxime. A comida tem gosto de pneu velho.
Durante o resto do dia você irá tentar lembrar quando foi a última vez que fez sexo. Em vão.
O expediente chega ao fim. Pensar no caminho de volta te faz vomitar.
Você entra no piloto-automático, e quando se dá conta, está parado em frente a porta de casa. Esse é o seu momento de agradecer à Deus.
Você se senta à mesa para o jantar. Seus filhos não estão em casa, e sua mulher está na sala vendo novela. Você só pensa em ir para a cama.
O quarto cheira à sexo. A cama cheira à sexo. Você não liga. Na verdade, sente pena de quem estiver fodendo a sua mulher. Ele que assuma as contas dela.
Você coloca a cabeça no travesseiro e agradece por estar vivo. Agradece por saber que é livre, e que poderá fazer tudo isso mais uma vez amanhã.
Essa é a sua vida.

A sua vida que eu recuso viver.