quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Adeus Pan...

Verão, eu não suportava aquele calor, e você cortava sua camiseta do Misfits só pra me provocar.
Nós corríamos pelas ruas como se essa maldita cidade fosse Berlim. Lembra disso?
Love Buzz infinitamente no rádio e pelo menos naquele dia, nós éramos os heróis.
Você amava a minha jaqueta do David Bowie e eu a palavra ódio riscada na sua mochila.
Mas meu bem, eu era só uma criança, e por debaixo do cadeado no pescoço havia só esperança.
Lembra de quando transamos na movimentada avenida? ou quando entramos naquela festa?
A colegial sem vergonha e o advogado sem escrúpulos, nadando de roupa na piscina enquanto você roubava minha gravata favorita.
Eu adorava sua cara quando você dizia que ia me matar, e você a sua calcinha jogada na da minha guitarra.
Mas meu bem, eu era uma criança, e você via isso quando a gente roubava placas de trânsito na madrugada.
Você chorou quando eu te levei chocolates na páscoa, e eu quando você cortou o meu braço.
Você riu quando seu pai me ameaçou de morte, e eu quando o meu te deu vodka.
Você me ligou bêbada dizendo ter visto Jim Morrison, e eu quando fui despedido do meu emprego.
Pista de skate, cerveja, D.D.G e incêndio florestal, é, nem tudo estava sobre o nosso controle.
Mas meu bem, então de repente você virou a criança.
Te colocar no sofá e limpar a sua cara, tirar o mato da sua roupa e dizer que ia ficar tudo bem.
Eu morria um pouco mais a cada nova marca de agulha no seu braço.
Eu morria quando você dizia coisas sobre luzes na cabeça. Você cumpriu a promessa, você estava me matando, da pior forma possível.
Te buscar pela linha de trem. Eu te defendia de tudo, mas não pude te defender de você mesma.
Lembra quando aquela policial quebrou o seu nariz? aquilo doeu muito mais em mim.
Quando você quebrou a garrafa de conhaque no sofá, foi eu quem saiu ferido.
Era eu quem juntava as cartelas daquele seu maldito remédio, e fui eu que apanhei quando você dormiu de tênis na cama da minha mãe.
O beijo de leite condensado com vinho. Eu leite, você vinho.
O meu vinyl do Ramones, o que você fez com ele mesmo? Você sabe muito bem.
Dia das mães, Lembra? Por que eu carreguei os dois?
Banheiro do bar, você lembra poque eu fui expulso? Era você, se refletindo em mim.
Eu suportei o peso de te amar o quanto pude, e o seu, até os meus braços cansarem.
Você me transformou em um homem, literalmente,
eu não era mais um soldadinho lutando por uma causa perdida.
Eu não chorei quando você me olhou e não conseguiu falar o meu nome.
Eu não chorei quando você quebrou a minha guitarra e me disse que havia sido por causa do macarrão.
Eu não chorei quando você foi demitida do seu emprego e colocou a culpa na música.
E foi então que eu descobri que os homens choram.
Eu chorei quando você disse que me amava demais pra fazer aquilo comigo.
Eu chorei, e como chorei, ao ver a beleza sumir dos seus olhos.
Eu chorei ao ver você vender os livros e os discos que eu te dei.
E eu achei que já estava morto quando você disse que não iria mudar.
Com duas horas de atraso, a chuva nas costas e o medo no peito você disse:
"nascidos pra morrer em Berlim baby, você lembra?"
Mas sabe meu bem, eu estava errado, e se hoje te visito nesse cemitério, é sinal de que emfim aprendi.
Você estava certa, a vida anda por uns caminhos estranhos mesmo,e eu não vou mais morrer em Berlim.

(Sid & Nancy estavam errados, o amor não mata.)

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