sábado, 19 de maio de 2012
4:23 da manhã do dia mais frio de todos
Segurando minhas mãos, ela olhou no fundo dos meus olhos e disse: quem é você?
Essas palavras entraram no fundo do que eu conheço como meu “eu”, e causaram uma dor tão insuportável que comecei a chorar imediatamente. Ela sabia o que tinha causado, me abraçou forte e sussurrou no meu ouvido que estava tudo bem. Essa era a real intenção dela: me fazer sair.
Enquanto seus braços me transmitiam aquele calor seguro, aquela sensação de estar no meu lar, ela vagarosamente começou a falar:
“Porquê [censurado], porquê você tenta o tempo inteiro esconder esse seu lado tão bonito? O tempo inteiro tentando fugir do que você realmente é, o tempo inteiro assumindo essa pessoa estúpida e sem controle que você não é? Você sabe que nessas frações de segundo que você esquece de fingir, eu o amo! Sim, eu realmente o amo pois sei que isso é você, na sua forma mais pura e verdadeira. Você deixa de tentar e passa simplesmente a ser! O que te faz continuar a se esconder? Ainda mais para mim, que conheço muito mais fundo do que esses olhos bêbados e essas palavras idiotas que você tenta me dizer? Muito mais do que essa alma pequena que você tenta me mostrar?
Pare de ser idiota e abra seus olhos! Você está afastando tudo de si mesmo, pior, você está se afastando cada vez mais, simplesmente por não querer aceitar que tudo isso está te destruindo, te levando cada vez mais pra esse buraco que você mesmo cavou.”
Chorando cada vez mais, doendo cada vez mais, eu berrei:
“Como posso saber que isso é verdade se eu nunca vi seu coração?! Como posso saber, se cada vez que eu tento, me vejo afundado nesse estúpido erro?”
Com aquele maldito olhar irônico ela me disse:
“Pare de olhar o erro! Pare, por favor, pare de olhar! O meu coração está aqui seu babaca, 4:23 da manhã, segurando a mão de um bêbado, e achando lindo, porque você chora como uma criança,e você não pode fingir isso. Você não pode fingir essa dor, essa entrega. Essa mesma entrega que eu queria tanto que você pudesse fazer sem tentar.”
Aquilo doeu tanto que me sentei no meio-fio e disse:
“Meu deus, cala a boca! Como você pode dizer que me ama?”
Ela se colocou na minha frente e disse:
“Olha, justamente por isso. Eu te amo cara, mas amo ESSE cara, esse cara aí, aí dentro, que você está a cada segundo tentando matar. Eu não posso amar vocês dois ao mesmo tempo, não mesmo."
Com uma tontura enorme mas ainda guardando o peso daquelas palavras eu perguntei:
“Quem é a outra pessoa então?”
E, em meio a um beijo quase épico e meio torto ela falou:
“você [censurado], você e esse maldito você que tomou o controle.”
(sábado, 4 de XX de não interessa às 11:56:39)
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