sábado, 19 de maio de 2012

Só mais um


Ele abriu os olhos depois de um longo período na cama, não dormiu, ficou apenas analisando trilhões de flashbacks (ou seriam flashfowards?) sem sentido.
Olhou para o lado e viu um cigarro, colocado milimétricamente sobre um livro de James Joyce, e se perguntou por várias horas se deveria acendê-lo, afinal, era "só mais um". Acabou por se decidir depois, já que os deveres que não conseguiu terminar noite passada gritavam aos seus ouvidos.
Entre uma xícara de café e outra, olhava para o cigarro e se perguntava de quantos "só mais um" sua existência se baseava. Pensava em quantas vezes havia caído nessa armadilha que é acreditar que será a última vez a fazer algo, essa tolice que é berrar "nunca mais errarei!"
Ele negou por tanto tempo seus erros, virou as costas para o que eles tinham a ensinar tantas vezes, que agora que os aceita, soa estranho aos próprios ouvidos.
O cigarro, junto com a música pop triste, somado ao temor irracional de perdê-la, fez com que ele destruísse completamente seu cinzeiro, à ponto de fazer seu chão recentemente limpo parecer um cenário de guerra.
Ele parou e olhou para os pedaços de vidro e sujeira espalhados pelo chão, os cacos ironicamente formavam um rosto feliz. Era como se a figura dissesse:
Obrigado por ouvir seu coração.




(quinta-feira, 2 de Junho de não importa às 14:15:45)

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